sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Fechando 2011 com chave de ouro


De cabelos encaracolados, vestido de cetim azul marinho e babados que se agitavam com a brisa da Baía do Guajará, Lu Guedes encerrou ontem a turnê de lançamento de seu mais novo álbum, o EletrOrquestra.

No anfiteatro da Estação das Docas, bateria, guitarra, teclado, contrabaixo, nove violinos e dois violoncelos formavam uma sinfonia híbrida, uma combinação inteligente entre o erudito e o popular, em que a voz suave de Lu se tornou o elemento de coesão.


Sons ásperos da guitarra de Léo Chermont, seguidos de um familiar batuque regional iniciaram o público no mundo intimista da cantora, que surgiu descalça em um palco coberto de filó branco. Feito uma Iara moderna, com movimentos sinuosos e uma voz delicada, Lu interpretou canções sobre a lua, sobre os rios e, por fim, sobre o amor.

Capturando o imaginário amazônico a partir de uma sonoridade gotejante, de pingo em pingo, Lu conquistou o público presente, que, por sinal, foi dos mais variados: compunham a platéia desde estrangeiros orientais até artistas paraenses renomados, como o poeta João Jesus Paes Loureiro, parceiro musical de Lu.

“Um equilíbrio entre o cristal e o granito. Simples e complexo. Herança e contemporaneidade”, disse o poeta sobre a sensibilidade musical de Lu, que ontem apresentou sons dubdélicos acompanhados de um solo nervoso do violoncelo de Diego Carneiro, regente da orquestra. Cada detalhe parecia ter sido minimamente pensado, ou melhor, sentido, como foi o caso das batidas lentas, semelhante aos batimentos cardíacos, vindas das baquetas de Junior Gurgel.

Enquanto recebia abraços calorosos dos seus conterrâneos, ao final do show Lu afirmou que nada melhor do que terminar em casa: “Encerrar em Belém é sempre muito bom. O público se identifica muito rápido, porque a gente dialoga não só com a música daqui, mas também com a sonoridade mundial”.

Mesmo resistindo às modas, como afirmou Paes Loureiro, Lu deixa sua marca no cenário musical paraense, promovendo uma surpreendente conexão entre a natureza, o imaginário e a platéia. Esta última, ontem, foi quase enfeitiçada pelo mistério das águas e encantarias amazônicas traduzidas no canto, no som e na poesia dos movimentos de vai-e-vem da cantora.

Talvez esse efeito só seja percebido por gente daqui, mas, como Lu comenta, as percepções são diferenciadas: “Eu notei que o público de fora é mais observador. Talvez as pessoas esperassem uma música mais efusiva, que tá sendo divulgada fora. E eu chego com a calmaria dos rios, isso faz com que eles reflitam e que, de repente, até conheçam outra sonoridade produzidas por aqui”.

Em 2012, começa tudo outra vez. A todos, uma ótima passagem de ano, iLUminado em todos os sentidos.

[Caroline Soares]

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