segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Lu Guedes apresenta “EletrOrquestra”

Foto: Bruno Pellerin

Cantora e compositora paraense lança em Belém no próximo dia 02/09 seu mais novo trabalho, o CD ‘EletrOrquestra’. O disco tem patrocínio da Petrobras e também será lançado em São Paulo e Rio de Janeiro.
Se for perguntado a Lu Guedes quanto tempo durou a feitura do disco ‘EletrOrquestra’, ela é capaz de rir e responder, com toda a sinceridade: ‘durou uma vida’. E não estará, de forma alguma, mentindo. É que são assim os rebentos paridos à beira d´água na Amazônia. Os tempos escorrem lentos, a sintonia aguça, e o mundo é visto ao longe.
EletrOrquestra é um amadurecimento de ideias curtidas ao longo de uma trajetória. A gênese de tudo talvez seja a banda Maria Fecha a Porta, liderada por uma cantora ainda em busca de um caminho próprio. Época marcada por uma efervescência pop na capital paraense, que ecoava o rompimento das amarras musicais protagonizadas por uns recifenses antenados.
Belém gritava. Guitarras misturavam-se a tambores e regionalizações. Algumas bem intencionadas. Outras, nem tanto. Lu, de personalidade retraída fora do palco, buscava algo diferente. Que desse vazão aquela vontade de dançar e cantar quando ouvia Portishead, Massive Attack e Bjork, misturado às cantorias de marés, típicas do nordeste paraense.
Os batuques e cirandas namoravam os grooves e os loops.  Foi esse momento especial que ficou registrado em ‘Estrela D’água’, um cd demo que religava os carimbós a uma pista de dança moderna. ‘Dona Maria Chegou’, clássico de Mestre Lucindo gravado pelo ‘rei do carimbó’, Pinduca, era um exato exemplo disso. Para desenvolver o CD ‘Estrela D’Água’, Lu Guedes desenvolveu pesquisa sonora e de campo em terreiros de Mina Nagô, em Belém, para aprender sobre a musicalidade dos toques afros e construir um trabalho inédito a partir deles.
Mas as marés vêm e vão. Seguem seu próprio ritmo. Foi o que fez Lu. Esperou. Vicejou, madrugou esperanças. Amanheceu serena. Madura. O resultado é EletrOrquestra. Dubs praieiros, ciranda eletrônica, canções serenas, orvalhadas.

Capa do disco Eletrorquestra

É o resultado também de uma parceria com o produtor Victor Rice. Baixista aficionado por sonoridades jamaicanas, já trabalhou com nomes de peso desse estilo. É dele o conhecido baixo de "Dub side of the moon", que recria o clássico floydiano. Rice fez a mixagem do último disco de Marcelo Camelo, ‘Toque Dela’. Atualmente co-produz e mixa o CD ‘Pitanga’, de Mallu Magalhães.
“Concebi e gravei aqui em Belém. As timbragens e edição foram feitas por ele em São Paulo. Victor trabalha com máquina de rolo analógica, a mixagem foi feita ao vivo. Acho muito poética a maneira como ele faz isso. Só há uma chance para trabalhar com cada faixa, depois é tudo zerado para iniciar outra. É analógica, das antigas. Ele tem vídeos na net, onde só aparecem os dedos deslizando os botões. Precisos. No som certo”, conta Lu.
“Victor pincelou atmosferas e dinâmicas com sua sensibilidade, elevou a qualidade dos arranjos com seus delays e reverbs. A mixagem durou um mês, às vezes rolava o dia inteiro. Fazíamos pausas. Foi intenso. Precisávamos da calmaria da madrugada para focar somente no som. A insônia ajudou nesse processo. Trabalhamos distantes pela net, mas com uma sintonia incrível”, complementa.
O disco foi produzido por Lu Guedes e co-produzido por Adelbert Carneiro. O arranjo de cordas é do maestro Luiz Pardal, que recentemente foi o responsável pelos arranjos do show Terruá Pará, na capital paulista. “EletrOrquestra” foi mixado por Victor Rice em São Paulo e masterizado por James Cruz, em New York.
Lu adocicou o canto. A voz, suave, homenageia, de certa forma, Bjork. Mas há mais nessas influências cantadas e recontadas. O disco abre com ‘De amar e de partir’, parceria com o poeta paraense João de Jesus Paes Loureiro. “Mas se um dia fatal for a partida, não te partas de mim amargamente, nem te partas deixando-me partida, deixa a flor de um talvez em mim, pra sempre...”, canta, numa sonoridade que começa suave e vai num crescendo envolvente.
‘Anjo do dia’ é apenas de Lu. Revela as influências de rios. Depois vem o desfile de raízes próprias como a de Mestre Lucindo e um toque erudito, com Heitor Villa-Lobos. Uma das melhores, ou a melhor, do disco é ‘Onde Moro’. Com participação especial do baterista Curumim, nasceu pronta para alçar voos maiores. Não fica a dever a nada que tenha sido produzido ultimamente por festejadas cantoras da chamada nova geração da música brasileira.
EletrOrquestra é mais lento, mais denso, mais envolvente do que os trabalhos anteriores de Lu Guedes. Tenho tendência para músicas mais intimistas, calmas. Mas também gosto de distorções, timbres ácidos. Apenas curto do meu jeito”, pondera.
É essa essência que transpira, escorrega pelas mãos, adormece serena em cada audição. Sem fazer muito barulho, de um jeito simples, Lu chega, bate suavemente à porta, pede licença, entra. E fica ali, dentro dos nossos corações. É assim que ‘EletrOrquestra’ vai marcar presença nesse cenário fértil da música brasileira. E como diz a letra de Onde Moro: “Moro onde o tempo é tempo, outros instantes. A noite se enfeita e o céu brilha em diamantes. Não corro, navego. Se ando, flutuo. Um banho de rio, mergulho fundo”.
Texto: Ismael Machado
Faixas do disco:
1- De amar e de partir (Lu Guedes e Paes Loureiro)
2- Anjo do dia (Lu Guedes)
3- Carimbó Dub (Vinheta)
4- Lua Luar (Mestre Lucindo)
5- Melodia Sentimental (Heitor Villa Lobos)
6- Imagens do Rio (Lu Guedes e Paes Loureiro)
7- Meninos-peixes (Vinheta)
8 - Onde moro (Lu Guedes)
9 - Nayam ( Lu Guedes)

10 - Pra Oxalá ( Lu Guedes)

Nenhum comentário:

Postar um comentário